segunda-feira, março 28, 2005


por Maurício Amaral

Há uma piadinha acadêmica que diz que o arquiteto é o sujeito que não foi homem o suficiente para ser engenheiro nem veado o suficiente para ser decorador. Lembrei disto, por associação, esta semana enquanto esperava o meu carro ficar pronto na oficina.

Como de costume, lancei mão das revistas à disposição na sala de espera, várias Contigos e Caras. Eis que em uma delas estava lá uma frase de Arnaldo Jabor, afirmando que o homem não conhece o verdadeiro amor, a não ser quando o perde, de forma que, segundo ele, “só os cornos amam de verdade”. Levando em consideração a quantidade e qualidade das asneiras já proferidas pelo autor, não cheguei a ficar chocado. Ao contrário, a idéia só poderia mesmo ter saído dele ou de um Gerald Thomas da vida.

Sobre a existência televisiva do Jabor, aliás, nunca entendi a justificativa. Sim, porque o seu papel de palpiteiro catedrático no Jornal Nacional, Manhattan e toda sorte de programa de entrevistas, deveria estar pretensamente respaldado por algum feito artístico ou acadêmico. Não que isto seja algo positivo, na maioria das vezes é o contrário. Mas é assim que funciona. Por exemplo: atualmente, uma das grandes autoridades em moral, segurança pública, política internacional e direito penal (além de outros temas) é o Adriano. Não sei o sobrenome, mas é o Adriano. Aquele que participou de um Big Broder qualquer e, por isto, tornou-se uma voz a ser ouvida (ainda outro dia ele opinava sobre o julgamento de Michael Jackson em um programa na Bandeirantes). No caso do Jabor, a única coisa que se levanta em sua defesa e por causa da qual ele é denominado “cineasta” é “eu sei que vou te amar” um filme tão ordinário que provavelmente até o Adriano se negaria a comentar. Conta a lenda que há outros filmes, tenho cá minhas dúvidas. E, a julgar pelo mais famoso, não perderia meu tempo.

Mal sabia eu que pior do que a leitura na sala de espera seria a conta a ser paga pela troca da bomba de combustível. Por isto ainda tive tempo de lembrar dos trejeitos na fala do Jabor, e a sua ridícula tentativa de imprimir ao seu texto (o sujeito ainda escreve!) um estilo sarcástico. Então compreendi o seu segredo: ele não foi homem o suficiente para ser Paulo Francis nem veado o suficiente para ser Glauber Rocha.

1:09 PM

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