quinta-feira, maio 26, 2005


por Alfredo Votta

Nesta minha primeira contribuição para o Oito Colunas, motivada pelo convite que me honra muito, eu gostaria de colocar algumas opiniões pessoais que não costumo expressar no meu blog. Desta forma eu escrevo um texto cuja publicação aqui faz sentido, por ter algo de especial, de diferente, em relação ao que escrevo habitualmente no Imperador da Svolonésia.

Assim, escolhi um tema que me agrada muito; vem sendo abordado em vários blogs e sites (inclusive neste) e ao qual nunca fiz em meu blog senão raríssimas e brevíssimas menções: a Igreja Católica e o seu atual Papa, eleito recentemente. Prossegui mesmo sabendo que muitos não se interessam, e mesmo que este assunto já tenha sido muito, muito comentado por bastante gente.

Por coincidência o texto mais recente do André de Oliveira também fala sobre isto, e toca inclusive num assunto que eu gostaria de comentar. Trata-se da parte em que ele diz “Bento XVI admite explicitamente que a verdade não se encontra unicamente no cristianismo”.

Esta visão não se opõe à ortodoxia, a meu ver. A Igreja não se opõe ao que existe de santo e verdadeiro nas outras religiões, para utilizar termos do Concílio Vaticano II, citados na Declaração Dominus Iesus do ano de 2000, assinada pelo então Cardeal Ratzinger e aprovada por João Paulo II. Assim a Igreja afirma que existem coisas santas e verdadeiras nas outras religiões, e que tais coisas não se rejeitam.

A revelação de Jesus Cristo, entretanto, é completa e definitiva. As coisas santas e verdadeiras das outras religiões não são coisas novas, alheias ou complementares à Fé; são lampejos da Verdade.

Não acredito, portanto, ser motivo de apreensão entre os fiéis o fato de os papas recentes andarem se aproximando de outras religiões. É uma aproximação pessoal e de caridade; se João Paulo II beijou o Alcorão, muito bem se observou que nenhum decreto foi emitido obrigando os católicos do mundo inteiro a fazê-lo; tampouco se introduziram doutrinas islâmicas na Igreja. Para ser direto: é necessário confiar no Papa e na sua infalibilidade para assuntos de Fé e Moral.

Além do mais, vejo poucas pessoas mais indicadas do que o próprio Papa para a aproximação caridosa com outras religiões. Se Pedro conduz a Igreja, não é natural que seja ele a ir ao encontro de quem não está nela? Justamente ele, que não falhará, conforme a promessa divina, é que pode se aproximar dos outros; e não eu, que não tenho infalibilidade nenhuma e preciso lutar mil vezes por dia para me manter no caminho correto.

É importante lembrar também que João Paulo II e Bento XVI têm falado duramente contra o relativismo, e não há dificuldade em entender, a partir disso, que não se está igualando a Igreja a religião outra nenhuma.

Da minha parte, eu insisto na confiança no Papa. E é conclusão óbvia da inteligência que confiar no Papa não é compartilhar seus gostos pessoais, mas segui-lo na Fé.

É fundamental tomar cuidado com as pessoas, tomando emprestada a expressão do André, que “se consideram mais católicas que o próprio Papa”. Eu arriscaria dizer que isto é um sinal quase certo de pessoas que não merecem confiança ou ouvidos.

Acredito ainda que vivemos numa época feliz no que se refere às pessoas escolhidas para o trono de São Pedro. Não se esqueça de que o Papa seria o Papa ainda que fosse de pouca inteligência, de fraca liderança, pouco piedoso; entretanto, temos visto pontífices que são de grande inteligência, grandes líderes e muito piedosos. Isto torna mais inspiradora a submissão ao chefe da Igreja, e estou certo de que isto é a vontade de Deus; e a gratidão dos fiéis a Ele deve ser ainda maior, porque isto nem sempre foi verdade, não é a regra.

Traz alegria e felicidade, no caso de Bento XVI, ver uma pessoa modesta, tímida (como ele próprio diz), amante de livros, afeita a recolher-se a bibliotecas, chegar a uma posição tão importante.

O próximo ponto que desejo comentar eu nem precisaria mencionar para muitos leitores; mas a insistência da imprensa é o que me faz não o ignorar. Leio coisas como “Bento XVI terá que dar respostas aos católicos no que se refere a contracepção, casamento homossexual, preservativos” etc., sempre aquela mesma lista.

Em primeiro, acho engraçado uma revista dizer “Bento XVI terá”, como se estivesse passando o dever de casa para ele, colocando obrigações. Nem os fiéis fariam isto (a não ser com muita caridade e humildade, e em situações um tanto extremas), imaginem uma revista laica. Em segundo, as respostas àquelas coisas já estão dadas. A Igreja tem seu posicionamento sobre cada um daqueles itens, e não o mudará.

Poucos dias depois da morte de João Paulo II, vi na CNN (ou na BBC? Já me esqueci) uma jornalista entrevistando um arcebispo (católico) da Inglaterra, se não me engano. Bastante feroz, ela insistia muito com ele em coisas como casamento gay e outras atualidades. Era constrangedor, e uns dias depois eu me lembrei disso ao ler o Alexandre Soares Silva, perguntando: como é que essa gente deixa de lado os santos, os mártires, os mistérios da Santíssima Trindade, e só pensa em casamento gay quando vê o Papa?... O tal arcebispo lhe respondia com serenidade e santa elegância. A Igreja não é um clube com estatuto que se mude á vontade, nem que tome medidas para atrair mais sócios. E é um pouco triste ter que dizer coisas desse tipo, óbvias até não mais poder, porque existe gente demais que não sabe, ou pior: ignora isto de modo consciente e premeditado.

10:44 PM

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