domingo, agosto 28, 2005


por Maurício Amaral

Como foi

Um sujeito, acompanhado da sua namorada, decide se divertir à noite, assistindo a um lual. Estão no litoral paulista e a festa está cheia de jovens. Divertem-se. No início da madrugada, por volta de duas e meia da manhã, resolve ir embora. De mãos dadas com a moça, percorre o caminho ermo até onde deixou o carro estacionado. Antes de alcançá-lo, passa por um grupo de cinco ou seis homens, bem apessoados, corpos esculpidos indicando anos de musculação, aparentemente também vindos da festa. O grupo, percebendo a beleza da moça, dirige-lhe gracejos, ignorando a presença do sujeito. Este, embora aparentemente em desvantagem, retruca. O grupo gosta da situação, e aumenta a provocação. Aproxima-se do casal. O sujeito, que por acaso é promotor de justiça, saca sua arma e ordena que o grupo recue. Não é obedecido. Ao contrário, certos de que a arma é um brinquedo, os homens riem. O sujeito faz dois disparos para o alto. O estampido vindo da pistola não os intimida. Os homens avançam e o sujeito atira em dois deles. Primeiro atinge um, o mais alto, com dois tiros no peito. Depois, atinge outro no braço, duas vezes. Os demais, agora com medo, fogem. Mais tarde o sujeito seria preso e expulso do Ministério Público. Eu fico sabendo da história através da apresentadora de um programa matinal de tv, que, indignada, protesta contra o fato de um promotor de justiça espalhar violência ao invés de ajudar a aplacá-la.

Como poderia ter sido

A apresentadora de televisão resiste ao convite. Afinal de contas, tem de gravar pela manhã e um lual costuma adentrar a madrugada. Pesa as circunstâncias. Está solteira há seis meses, após um casamento mal sucedido com um homem que nunca a amara de verdade. Sente-se carente e o convite é de um pretendente que ela, por intuição, acredita ser o homem ideal. Pensa que só precisa chegar ao estúdio às oito e termina por concordar com a noitada. Diverte-se mais do que poderia imaginar. A música é boa, o ambiente romântico e o parceiro um cavalheiro apaixonado. No início da madrugada, resolvem ir embora. Ela, que não havia ingerido álcool, sente-se embriagada de felicidade, capaz de prolongar a noite na casa dele e ir direto, sem dormir, fazer o programa. No caminho para o carro, uma rua sombria, de onde se podem ouvir apenas alguns risos abafados. Um grupo de jovens bonitos e fortes os aborda, dirigindo a ela gracejos insolentes. O seu parceiro protesta, mas recebe um soco violento e cai. Ela, em estado de choque, tenta socorre-lo, mas é impedida por braços vigorosos que a atiram no capô de um carro. Um a um, os seis homens a possuem. Depois, antes de morrer sufocada pelas mãos de um dos homens, ainda consegue ver o seu parceiro ter o crânio esmagado por uma pedra. No dia seguinte, todas as redes de tv noticiam a morte da apresentadora, protestando contra a violência na cidade e a inoperância da polícia. Pedem justiça.

Como gostariam que fosse

Lual no litoral paulista. Jovens se divertem, bebem pouco, não se drogam. No final da festa, quando um jovem casal atravessa uma rua deserta em busca do carro, a apresentadora de tv surge inesperadamente, microfone em punho, acompanhada do cinegrafista. Pergunta aos dois o que acharam da festa. Depois quer saber se não têm medo de andar por ali. Deixa-os ir. “Um lindo casal, não?”. Pisca o olho para o cinegrafista.

9:53 PM

4 comentários:

at 5:31 PM Luiz Augusto Silva disse...

Vamos brincar de atualizar!
Felicidade

at 5:31 PM Jorge Nobre disse...

Sim, vamos brincar de atualizar.

at 5:11 PM J. Alencar disse...

Esse blog chegou ao fim?
digam que não.

at 4:46 PM think0 disse...

desculpa usar esse espaço pra perguntar isso, mas eu não achei outro jeito: como você colocou os anúncios do google no menu da Search?? obrigado pela atenção...

http://wllpapers.blogspot.com/